Resenha - 2.990 Graus, de Adilson Xavier

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- O inferno são os outros... - Balbuciou Alice, sem saber exatamente por que dizia aquilo. 
- Sartre.
- Quem?
- Foi Sartre que disse isso... sobre o inferno... não foi?
- Sei lá.
- Às vezes penso outra coisa.
- O quê?
- O inferno é dentro da gente.



2.990 graus é um livro que queima em suas mãos, em cada página o peso das palavras se intensifica, num ritmo marcado pelos títulos dos capítulos. Com uma escrita poética, Adilson Xavier cria um ambiente harmonioso que transita entre a ordem e o caos no Rio de Janeiro.





O autor nos apresenta Hermano, um jovem delegado que fica encarregado de desvendar uma série de assassinatos envolvendo políticos corruptos. Sua personalidade é peculiar, já que ele adora devanear e arrisca até na poesia. Maninho ou poeta, como é chamado, tem em mãos a investigação mais difícil da sua vida, além de ter que lutar contra seus impulsos para manter o relacionamento com Alice.


Hermano não é um típico herói, o que me deixou ainda mais feliz com o rumo da história. Promíscuo e machista, Maninho morre de medo de ser traído por Alice mas não cumpre sua parte no acordo. E essa dualidade nos acompanha até as últimas páginas, carregadas de teor sexual. 

Dividido em 4 fases, o livro é narrado em terceira pessoa nas duas primeiras (Aquecimento e Varredura),e do ponto de vista de Hermano nas duas últimas (Soterramento e enxurrada). Os capítulos têm nomes em crescente, como exemplo os da primeira fase, que fazem menção ao aquecimento (cheiro, fumaça, ardor, fervor, faíscas e labaredas).


Já sobre os assassinatos, percebemos que eles são brutais e semelhantes: os políticos são amarrados em forma de "X", como a posição do Homem Vitruviano, e então queimados por dentro a partir do ânus com um maçarico. 


Políticos corruptos sendo alvo de assassinos? O sonho de qualquer brasileiro! Mas até onde vão os seus princípios? A população se divide: uns apoiam os "Vingadores do Povo", outros se mostram horrorizados com a situação. De que lado você estaria?


O principal suspeito é o Pastor Ismael, ex-presidiário, que prega no Templo da Chama Divina, nome bem compatível com os assassinatos, diga-se de passagem. Mas será que o Pastor está realmente envolvido? Ou é apenas uma isca para despistar dos verdadeiros culpados? As perguntas são muitas e as respostas vêm aos poucos.




O livro aborda temas polêmicos que se desenvolvem paralelamente até se cruzarem na trama principal, o que instiga ainda mais a leitura, pois você caminha pela deturpação religiosa, censura na arte, valores morais e corrupção em sua mais pura forma, que irradia por todos os âmbitos sociais. 

2.990 graus é um ensaio sobre a verdade, pois em diversos momentos nos deparamos com essa palavra. O que é? Será que realmente existe? É o que vamos descobrindo ao longo das páginas.


Quando a Oasys Cultural me enviou o livro não pensei que seria tão incrível, mas já tinha em mente que viria coisa boa por aí. Adilson Xavier é publicitário e muito conhecido no meio, já escreveu diversos livros e um deles já fez parte da minha vida acadêmica, "Storytelling - Histórias que deixam marcas". É a primeira ficção do autor que tenho em mãos e posso afirmar que ele é bom em tudo o que fez até agora!


Ficou curioso? Compre agora mesmo e se delicie desvendando os mistérios que Adilson Xavier nos proporcionou. Já leu? Conta pra gente o que achou!








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